Entendendo a chamada Crise Econômica Mundial
Muito se tem falado nos noticiários de televisão e jornais sobre o “monstro” denominado Crise Econômica Mundial, porém poucas foram as explicações claras sobre o que é, de onde vem, e principalmente, como influi na economia brasileira.
A crise econômica mundial, a qual segundo especialistas em análise econômica dos jornais Folha de São Paulo e New York Times, iniciou-se entre junho e dezembro de 2007, teve sua origem no final dos anos 1990, em razão do episódio denominado pelos especialistas americanos como “tech bubble”, traduzido pelos brasileiros como estouro da bolha de crédito das empresas “pontocom”, fato que levou o mercado americano de ações à uma crise, a qual sendo que constatada em março de 2001 desencadeou sucessivos cortes de juros básicos pelo FED (Banco Central americano), chegando em junho de 2003 ao patamar de 1% ao ano.
Com as taxas de juros baixas, e consequentemente facilitação e barateamento no crédito pelas companhias hipotecárias americanas, a procura por imóveis cresceu exponencialmente. Ainda, milhões de proprietários aproveitaram as baixas taxas para refinanciar as hipotecas (financiamentos com garantia imobiliária) já existentes. Como consequência da alta procura, os imóveis tiveram uma valorização temporária, e irreal.
Conforme maior a oferta de crédito e a procura, a qualidade das análises de risco diminuiu, e as companhias hipotecárias, passaram a explorar o segmento de clientes "subprime" – denominação dada aos clientes que contém um risco maior que o de clientes com classificação melhor de crédito – compensado por taxas de retorno mais altas”.
Os direitos sobre os empréstimos “subprime”, hoje denominados como “ativos tóxicos” conforme as palavras do economista e ex-presidente do Banco Central do Brasil, Pedro Malan, em entrevista à articulista Mirian Leitão (disponível no site do jornal O Globo), atraíram fundos de investimentos e bancos, os quais adquiriram os referentes papeis, injetando mais fundos nas companhias hipotecárias, permitindo a realização de novos empréstimos.
Por sua vez, os adquirentes dos direitos sobre os empréstimos negociaram os mesmos ou os atrelaram a outros negócios, gerando uma cadeia de venda de títulos, denominados “derivativos”, por serem títulos derivados de outra relação de crédito.
A partir de julho de 2004 o Banco Central Americano (FED) reiniciou o aumento progressivo dos juros, que atingiram o patamar de 5,25% em 2006. A alta nos juros ocorrida refletiu diretamente nas correções e atualizações monetárias das hipotecas, uma gerando assim a inadimplência, principalmente nos contratos de maior risco “subprime”.
Também em 2006, o mercado imobiliário havia saturado ante o alto preço dos imóveis, aumento dos juros e a vasta oferta, fatos que ocasionaram uma retração nos valores dos imóveis. A alta taxa de juros, inadimplência e a queda nos valores dos imóveis acabaram por ocasionar débitos maiores do que a própria garantia imobiliária.
Como bem apresentado pela equipe de análise econômica do Jornal Folha de São Paulo, posição também apresentada por Malan, com isso, as instituições financeiras, que compraram os títulos hipotecários "subprime" e os revenderam sob a forma de derivativos, também começaram a ter problemas pois se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos. O resultado: todo o mercado passa a ter medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez, e consequente retração na oferta de crédito. Em 2007, quando o aumento da inadimplência nas hipotecas "subprime" aumentou o risco embutido nos derivativos lastreados nesses papéis de dívida, iniciou-se uma onde generalizada de pânico, e de quebra das empresas americanas que investiram nesses títulos.
A crise no mercado financeiro mundial além de trazer prejuízo para os diretamente envolvidos, e para as empresas que aplicaram recursos nos “derivativos”, acarretaram uma crise de confiança fato gerador da redução brusca de disposição de crédito no mercado, influenciando diretamente em toda atividade empresarial.
Apesar das resistências do governo brasileiro em assumir que as conseqüências da crise financeira chegaria ao país, ao concientizar-se dos prejuízos já gerados pela mesma tomou imediatas medidas, como a redução do IPI (imposto sobre produtos industrializados) sobre produtos dos setores mais atingidos pela crise, como forma de estímulo do consumo, liberação pelo Banco Central dos empréstimos compulsórios dos bancos, de forma a estimular a oferta de crédito, emissão de medida provisória autorizando o Banco do Brasil S.A. e a Caixa Econômica Federal a constituírem subsidiárias e a adquirirem participação em instituições financeiras sediadas no Brasil as quais estivessem em dificuldades, a fim de evitar a quebra das mesas e as desastrosas conseqüências no mercado, entre outras. A ata da 140ª reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), órgão responsável por determinar a taxa de juros brasileira, realizada nos dias 20 e 21 de janeiro deste ano, demonstrou a preocupação dos órgãos monetários e evidenciou os efeitos gerados pela crise econômica no panorama nacional. Das análises realizadas pelo Copom extrai-se que, apesar das medidas governamentais, a crise já atingiu e continua atingindo o setor empresarial, seja pela ausência de crédito, seja pela retração nos investimentos e consumo.
Os efeitos gerados pela crise econômica no setor empresarial e em toda sociedade, conforme apresentado, são reais, sendo que as medidas tomadas pelo governo brasileiro, até o momento, não surtiram efeito, não tendo outra saída as sociedades empresárias em crise senão a jurídica, através dos Pedidos de Recuperação Judicial e Extrajudicial.
Segundo reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”, publicada 01 de fevereiro de 2009, mais de duas empresas entraram com pedido de recuperação judicial a cada dia útil de janeiro no País sendo ao todo 48 pedidos, número recorde desde a entrada em vigor da nova Lei de Recuperação de Empresas, em junho de 2005.
Necessário se faz, para evitar que os reflexos da crise atinjam toda sociedade, é o estímulo do consumo consciente e responsável, de forma que a inadimplência não venha por agravar os efeitos da crise econômica.
Aumentando o consumo move-se o motor da cadeia econômica, gerando renda e emprego, já a desaceleração do mesmo somente gera mais desaquecimento nas vendas e conseqüentes quebras das empresas e desemprego.
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